quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ultrajante!


A nostalgia, enquanto sentimento de desagregação face a uma qualquer realidade perdida, mapeia o nosso subconsciente e formata a opinião profundamente. Este Frei Fernando Ventura sabe isso (ou se não sabe devia) e não se coíbe de por em pratica um discurso ignorante, mentiroso, matreiro, e populista. Nada teria de relevante não fosse tratar-se de um prime-time da SIC. O Mário Crespo que se cuide que já há substituto.


Mas vejamos, ignorante porquê? Ignorante porque fala das coisas sem saber o que são, como é o caso do submarino, ou o caso da barraca. Saberá ele, por acaso, que o país que é uma barraca tem 300.000 fogos a mais e grande parte com uma qualidade de construção acima da média europeia? E saberá ele para que serve um/este submarino? E saberá ele com que níveis de formação saem os alunos dos técnico-profissionais, para os insultar daquela maneira?

E mentiroso porquê? Mentiroso porque usa amiúde expressões como: “Estamos a criar uma escola em que é possível ir do princípio ao fim da faculdade sem saber ler nem escrever, não estamos a dar um futuro aos nosso jovens”. Expressões que servem para criar uma ideia de desordem que é mentira. Já nem falo do “saber ler nem escrever”, mas ele saberá lá alguma coisa do sucesso dos nossos jovens por esse mundo fora? Os tais que não sabem ler nem escrever, mas sabem investigar neurociências? Os que não sabem ler nem escrever, mas que vingam no mundo das artes, do desporto, das empresas, como nunca antes em Portugal? Porque é para isso que ele permanentemente remete, para um antes, para um saudosismo passadista, que simultaneamente rejeita mas do qual vive. Constrói o discurso com banalidades como Sebastianismo, Fado, Dr’s e Eng’s, etc. através das quais dá conta do seu desconforto com o ser português.

E matreiro? Sim, é matreiro. Toda a entrevista não tem como objectivo senão servir um propósito contra o governo que ele vai metendo e alfinetando de forma mais ou menos dissimulada. As frases são estas: “fraco rei que faz fraca a forte gente” ou ”que pena não se poder responsabilizar o PM, como na Islândia” ou “Sabemos os diplomas alguns como se conseguem” ou “temos um PM que parece a Alice no Pais das maravilhas” ou ainda “esta vergonha do nosso PM cismar em falar línguas lá fora” (não saberá ele que é bem português gostar de se tentar exprimir na língua dos outros e que isso á parte fundamental da nossa universalização, que foi assim que demos novos mundos ao mundo…). “Nós mandamo-lo limpinho com um fato como os dos senhores do poder em Angola”, mas o que é isto?

Mas sobretudo é populista, porque procura fomentar e tirar partido dos sentimentos mais primários de quem o ouve, com frases como “lideres que não temos”, são os “jogos de poder” e a preocupação em “servir-se” em vez de “servir”. A seguir dramatiza, “estamos a criar uma geração de monstros, o que vem aí é muito pior do que temos hoje” e por aí fora… E isto um padre. E em prime-time.

Contudo, não fica por aqui. Entra no campo especulativo e insidioso, que revelam alguém que já não percebe o mundo em que vive. Diz coisas como: “Estamos a criar uma sociedade que está montada no ter pelo ter, que esqueceu o ser pelo ser”; Eu diria é que a sociedade se lembra bem do tempo em que “era por ser” e esta cambada “tinha por ter”. E diz outras como: “Nós estamos a criar gerações de jovens sem memória”; Eu diria que não é verdade, eles (jovens) lembram-se bem dos abusos.

E não pára, numa verborreia de oralidade impressionante. Que tal esta? “As crianças estão nos infantários porque os pais precisam de ter dois e três empregos para sobreviver” ou esta “As crianças não tem avós nem pais, que tem que trabalhar 25 horas por dia se for preciso”; Então e o rendimento mínimo? Afinal não são todos uns manguelas, uns monstros a viver à custa do subsídio?

Mas pior é quando fala dos portugueses: “Nós somos os limpadores do mundo, os portugueses quando vão para a emigração” ou “Temos vergonha da nossa história, meteram-nos na cabeça que era pecado…”.

Cruzes canhoto, e é isto um padre… E em prime-time... são insondáveis os caminhos da fé…