terça-feira, 16 de março de 2010

Rescaldo de Mafra

Verifico que a maioria da opinião publicada avaliou de forma positiva, muito positiva para o PSD, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no Congresso de Mafra. Não penso assim. Acho mesmo um discurso perigoso para um partido que, como se afirma, vai definhando e corre o risco de passar de partido da alternância do poder, para apenas mais um partido com assento parlamentar.
Vejamos, qual deve ser a linha de preocupações de um partido de poder que se encontra na oposição. Reajustar pressupostos ideológicos e questões de principio aos tempos (caso o entendam como necessário) encontrar uma linha programática adequada e escolher os protagonistas. Nada mais, simples directo e eficiente.
O que é que o mesmo partido não deve fazer; perder-se em tricas, discutir estratégias à porta aberta, revelar tácticas. Exactamente o que Marcelo fez. Marcelo e Santana, para alegria dos jornalistas presentes. Nestes congressos há sempre uns Fernandos Costa para estas coisas, que não podem nem devem ser feitas pelas figuras de proa, sob pena de condenar o partido ao descrédito.
Marcelo Rebelo de Sousa discutiu a estratégia e revelou a táctica. Maioria absoluta de direita é, para ele, o caminho. Se o congresso o ouvisse, e decidisse, ou se o ouviu e assim decidir, Paulo Portas fica desde já com o melhor seguro de vida a que poderia almejar. Vai discutir alianças no pior momento da história do PSD, e com o ás de trunfo na mão; é o tudo ou nada.
O mais irónico é que Marcelo persiste no erro. Já o cometeu antes e tenta agora persuadir os outros a percorrerem o mesmo trilho. Mais uma vez a história do lacrau e do crocodilo, é da sua natureza.
Ao fim e ao cabo, qualquer um dos três candidatos a líder está melhor preparado para o cargo. Paulo Rangel não disse nada, por isso não se comprometeu. Passos Coelho disse muito, quase tudo irrelevante, mas também não comprometeu (os votos de jardim são votos de militantes da Madeira, quem estiver à espera disso para ser um bom governante, mais vale nem tentar). Aguiar Branco, porventura o mais interessante dos três, disse algumas coisas nas quais vale a pena reflectir, nomeadamente no que diz respeito às perspectivas económicas para o futuro de médio prazo. Não comprometeu mas não vai ter hipótese.

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